quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sujeito Paciente

O Zé é acordado pelo silvo violento do apito do guarda na rua movimentada em que foi enfiado pela vida. Seu incômodo com o alarido puxou o lençol e o encaminhou para o chuveiro.

A água gelada acabou o serviço de despertá-lo, já deixando Zé no estado de alerta-inerte cotidiano. A fome surrou seu estômago e obrigou o rapaz a sair para buscar o pão de cada dia, o qual não lhe seria dado.

Foi atraído até a padaria pelo cheiro de café fresco; os centavos em seu bolso (ele não precisa de carteira) pagavam a conta enquanto o líquido quente mentia para o corpo de Zé, dando a crença de que fora alimentado.

O bolso, agora vazio, lembra Zé de que está na hora do trabalho, e os carnês atrasados o conduzem à labuta. Pedras são erguidas, pedras postas abaixo. O peso do dia a dia faz do sertanejo um cabra forte e dolorido demais para pensar.

A exaustão há três horas o mandava encerrar o expediente, mas a voz do patrão falava mais alto. Ela, a bem da verdade, mal era ouvida: só a necessidade de atender ao capricho casamenteiro da Preta é que dava forças pro trabalho não parar.

Amanhã é dia santo, de descanso. Zé será acordado por sua fé em Nossa Senhora para ser orientado num sermão sobre pecados inacessíveis. Talvez a rodada do Brasileirão seja assistida.

Só não esquece, Zé, que amanhã não tem jeito: você vota.