Certa feita a Terra parou (pelo
menos para mim). Foi por alguns segundos apenas, provavelmente o resto da
Humanidade sequer notou – com exceção dos astrônomos, que enlouqueceram. Ficou
imóvel, uma rocha boiando inerte na imensidão vazia do Universo, durante
aqueles breves segundos que separam uma pergunta de uma resposta.
Provavelmente
esse tempo perdido, esses segundos eternos, será corrigido num próximo horário
de verão. Dizem que é para economizar energia elétrica. Balela. O horário de
verão foi criado justamente para dar essa margem para os corações que se
inflamam a medida que a Terra, paralisada, aproxima-se do Sol.
Do
momento em que a Terra parou até o dia de hoje muitos fenômenos astrofísicos
ocorreram. O tempo desacelerou e acelerou diversas vezes (deixando Einstein
orgulhoso). A gravidade ora mostrou-se serena como a lunar, outras implacável
como a de Júpiter (incríveis 22,88 m/s²) ao passo que as decisões iam se
tornando mais brandas ou severas e que as consequências me esbofeteavam ou
acariciavam.
Foram
dias intensos. Nas praias de Copacabana, no Observatório Nacional, no
Planetário da Gávea, na NASA. Na minha cama. Nunca esteve tão vazia e tão
quente ao mesmo tempo. Ela e meu espelho decidiram ter uma conversa comigo.
Dizem que eu não sou mais o mesmo, que sentem falta do meu velho eu. A pergunta
é: eu sinto?
Caso
sinta, onde encontra-lo? Provavelmente está explorando algum outro Universo
desconhecido pra mim. Enquanto me dedico ao máximo para conhecer uma só
galáxia, me adaptar a novas atmosferas, ele segue livre pelo espaço. A pergunta
é: vale a pena estar perdido no vazio frio e escuro só para gabar-se de não ter
amarras?
Já
se passou um tempo desde que a Terra parou pra mim. Hoje, pelo que vejo, ela
segue seu giro inexorável, como uma bailarina indiferente à torturante ponta da
sapatilha ou ao olhar crítico do respeitável público. Ela segue girando sobre
risos e pratos, desesperos e esperanças, conflitos e reconciliações.
Francamente, não espero que ela vá parar novamente, ao menos para mim (se aspiro, ou não, é outro conto).
Provavelmente me juntei ao resto da Humanidade que sequer nota quando o
espetáculo se encerra e que precisa ser alertado pelos companheiros de plateia para
saber quando aplaudir sem saber exatamente ao que.
E
essa perspectiva da Terra constantemente acelerada, gravitacional e
tangencialmente, me é assustadora. Afinal de contas, o que me garante que serei acatado caso venha a dizer: pare o mundo que eu quero descer.