quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Conflito do Confronto

Está o inferno lá fora, minha cara. Enquanto erguemos nossas taças tem PM erguendo cassetetes e Black Blocs erguendo frágeis escudos de tapume. Alguns chamarão a confecção desses artefatos de defesa de "vandalismo".

Enquanto essa rádio nos embala suavemente, tem gente lá fora gritando palavras de ordem. Tem tiro (munição real, inclusive), tem bomba, tem grito, tem choro. Mas nada disso chegará até o nosso mundo, construído ao longo da noite, dentro do seu apartamento.

Estranho saber que ao mesmo tempo que respiramos um o perfume do outro tem pessoas sufocando em nuvens tóxicas levantadas pelo Estado com os tributos pagos por todos nós. Mas nada irá entrar pela janela, fechada para "não entrar o barulho da rua", quando na verdade é para incomodarmos menos os vizinhos.

Ao mesmo tempo em que degustamos todos os detalhes perfeitos desse jantar, temos nas ruas irmãos e irmãs que estão com o gosto do próprio sangue na boca. Talvez um ou outro se afogue.

Nesse instante em que nos enlaçamos nos braços um do outro tem combatente sendo algemado e posto em camburão, com destino sabe-se lá para onde, sob pretextos absurdos ou nulos. Contudo permanecemos aqui, presos apenas um ao outro. Voluntariamente.

Ao passo que a hora avança e vislumbramos um belíssimo futuro juntos, tiveram aqueles que se expuseram a penas de 3 a 44 anos de cadeia por todos nós - eu e você inclusive. Talvez o amanhã deles não seja tão vibrante quanto o nosso.

Todavia, essa noite, nada que ocorre além dessas paredes me importa. Essa noite, e na manhã seguinte, troco a guerra pela paz, o ódio pelo amor, o caos pela ordem, o distúrbio pela serenidade. Hoje não é meu dia no front. Hoje não tenho um inimigo.

Mas só hoje.