terça-feira, 22 de março de 2016

Madrugada

Já foi todo o Ventura, todo o Acabou Chorare.

Toda a pequena coletânea de Sinatra e Johnny Cash.

Já foi uma garrafa e a outra está pela metade.

Já foram todas as posições confortáveis para ficar sentado no chão.

Ou tão somente para ficar.

Só resta agora o estalar do meu pescoço dolorido e o som do deslizar da sua blusa

Enquanto você se posiciona com a cabeça sobre a minha barriga.

Resta desembaraçar uma parte do seu cabelo com a ponta dos meus dedos.

E resta agora metade da metade restante da garrafa.

Resta o silêncio rompido.

Pela madeira que estala, pelo motor da geladeira. Pelas gargantas que tragam.

Resta saber quem irá se levantar para encher os copos.

E restam apenas algumas horas pro nascer do sol.

Resta saber o que resta. Lá fora e aqui dentro. E dentro dos que estão aqui dentro.

Resta metade da metade da metade restante da garrafa.

Acabamos com a garrafa antes que ela acabasse com a gente.

Levantamos num tom sério, ébrios, dormentes.

domingo, 20 de março de 2016

Oeste

Viajando para o Oeste.

Sempre para o Oeste, o Oeste distante.

Ora cowboy, ora bandeirante.

Viajando para o Oeste.


Segue seguindo, fugindo do Sol que nasce a leste. Fazendo uma noite ser eterna, trazendo frescor até mesmo ao Agreste. Fugindo do amanhã que traz boleto, prazo, telefone, planilha, peste.

Vai caminhando, o raiar do dia já vem vindo. Não deu pra fazer esse tempo ser infindo. O cowboy chegou no mar; o bandeirante, nos Andes. Encurralados no tempo, no espaço, pelos raios de sol inexoráveis que vão surgindo.

Ainda assim dá-se um jeito de seguir seguindo. O cowboy vai nadando, o bandeirante vai subindo. O sol se cansa e no oeste vai dormindo. Com sorte ele prepara um alvorecer mais lindo.