terça-feira, 22 de março de 2016

Madrugada

Já foi todo o Ventura, todo o Acabou Chorare.

Toda a pequena coletânea de Sinatra e Johnny Cash.

Já foi uma garrafa e a outra está pela metade.

Já foram todas as posições confortáveis para ficar sentado no chão.

Ou tão somente para ficar.

Só resta agora o estalar do meu pescoço dolorido e o som do deslizar da sua blusa

Enquanto você se posiciona com a cabeça sobre a minha barriga.

Resta desembaraçar uma parte do seu cabelo com a ponta dos meus dedos.

E resta agora metade da metade restante da garrafa.

Resta o silêncio rompido.

Pela madeira que estala, pelo motor da geladeira. Pelas gargantas que tragam.

Resta saber quem irá se levantar para encher os copos.

E restam apenas algumas horas pro nascer do sol.

Resta saber o que resta. Lá fora e aqui dentro. E dentro dos que estão aqui dentro.

Resta metade da metade da metade restante da garrafa.

Acabamos com a garrafa antes que ela acabasse com a gente.

Levantamos num tom sério, ébrios, dormentes.

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