sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Caixa

Pacientemente esperei por esse momento. Por mais do que um Natal, inclusive. Tive um ano de bom comportamento, vivendo a minha vida de forma justa, sem sequer imaginar o que me seria dado na Noite Feliz.

Os dias passaram normais, serenos. Em cada um deles aprendi uma coisa nova, tive a chance de ser menos menino e mais homem. Quando chegou a tão esperada noite de Natal vi que o menino havia sido substituído, não morto, pelo adulto que se formava. Ele também, no entanto, estava ansioso para saber o que o aguardava à sombra do pinheiro de plástico montando na sua sala de estar.

Mesmo com a chegada de tão esperada data, confesso, não me afobei. Tudo bem, sendo sincero, apressei um pouco os meus passos, mas vi que de nada adiantava: Aquele presente, o especial, o qual eu guardaria para sempre comigo, só me seria entregue no momento certo. As horas fluíram com a leveza de um córrego e enfim chegou o instante em que eu poderia tocá-lo e descobrir o que a vida havia me reservado.

Tomei o pacote de papel alegre e laço bem feito nas mãos. Coloquei-o no colo e pacientemente abri. Tive todo o cuidado para não rasgar o invólucro, tamanho prezar que eu tinha por aquele presente. Com gestos leves procurei as brechas que me permitiriam usufruir daquilo que me foi entregue.

Qual não foi minha surpresa ao deparar-me com uma caixa. Era de madeira, em tom claro, bem trabalhada. Possuía detalhes dourados, mas era ainda assim muito simples apesar de extraordinariamente bela. Já tive essa caixa nas mãos, lembro bem, e como a vida, donatária do presente, sabia que era exatamente aquilo que eu gostaria de ter novamente? Foi preciso tempo e vivência para possuir uma vez mais o que jamais me pertenceu de fato.

Admirei aquela caixa e me perguntei o que teria dentro dela. Havia uma grande fechadura em metal frio e nenhuma chave veio junto ao pacote (acredite, eu tive o cuidado de verificar). Não tinha como saber quais segredos eram por ela guardados, mas a mesma soltava pistas de que portava tudo aquilo que eu queria. Pistas soltas na forma de um cheiro agradável, de uma melodia suave acompanhada do tilintar de zil coisas que me fascinam.

Tudo o que eu quero está lá dentro, eu sei. A caixa é paradoxal: ao mesmo tempo em que se demonstra extremamente resistente é absurdamente frágil. Um movimento mais brusco poderia quebra-la e arruinar seu conteúdo para sempre.

Tendo como lição a longa espera que eu tive para ter ao meu lado e ao alcance das minhas mãos tão misteriosa caixa, eu optei por guarda-la e esperar o momento em que a chave me será entregue. Enquanto isso, limito-me a eventualmente olhar para ela com ar de admiração, sentir o perfume exalado e imaginar o quanto será bom o dia em que a mesma for aberta para mim.

Eventualmente ouço cliques vindos da pesada fechadura fria, capaz de arrepiar-me com um simples toque. Aguardo pacientemente o instante em que um estalo final será ouvido e eu poderei não só tocar no que a caixa guarda como também depositar um pouco de mim lá dentro...