Mortuário
Morreu um romântico. Chora, Chico, assim como o fez por Vinícius. Morreu um romântico e nosso mundo, o do sentir, tornou-se mais silencioso e frio. Morreu calado, tornando sua morte vã.
Tal qual Brás Cubas, morreu numa sexta-feira. Era poeta embora há muito não escrevesse; quando tentou voltar a fazê-lo passou pelo entrave natural das relações que se reconstroem e acabou, por timidez, deixando seus assuntos para lá. Grande erro.
>A causa mortis é conhecida: inchaço no peito, diagnosticado por um nó na garganta e falta de ar. Fora vítima do tempo e das distância e de seus parcos recursos e de sua ínfima coragem. De tanto deixar para lá, acabou sufocado pelas próprias palavras que gostaria de dizer, berrar, uivar.
Toma mais um grau, compadre, que só piora, pois o poeta morreu, também, de tédio. Cansou-se de esperar a mulher certa e das mãos atadas para conquistar as que já o haviam cativado. Entediou-se de tanto ouvir conselhos e poréns.
Sua condição teve diversos agravantes, tanto que morreu sem bater as botas. Aliás, o tiro de misericórdia foi o adeus dado ao mais romântico dos seus sonhos. Como diria outro poeta pelo qual lamentar: Sonhava ao fim do dia, ao lhe descer cansaço, com as fardas mais bonitas desse meu país.
Foi, também, vítima de seus vícios. Tentou afogar cada uma das palavras. Tinha a parca esperança de empurrá-las para dentro de si e lá deixá-las. Bebia enquanto compartilhava com os conhecidos aventuras que para ele nada significavam; depois segredava aos amigos sobre desventuras as quais muito lhe marcavam.
Morreu numa Sexta-Feira de Paixão - numa das tais aventuras insignificantes. Gozou, suspirou e morreu. Eutanásia compulsiva.
Levou consigo seus pecados, sonhos, paixões e amores. Só suas palavras, as tais que o mataram, seguem por aqui para nos ensinar e inspirar vez ou outra.
Que ele descanse em paz enquanto torcemos pela Páscoa.
Filho,
ResponderExcluirVocê me emociona sempre! Te vi nesse poeta, revivi os teus sonhos, que não morreram, mas sim adormecem; pois a vida carrega sempre grandes emoções e prazeres futuros... e lá, que esse gigante "acometido pela metafórica morte", há de se reerguer, ao conhecer pela frente novas razões para, tal qual a Fênix, renascer das cinzas.
Te amo, meu poeta!
Gabriel, vi no seu romantico que morreu o mesmo homem que com sua morte atrapahou o tráfego, o público e o sábado. Seu romantico me levou a pensar na mulher que ele beijou, no filho que deixou, mas também nos pecados, sonhos, paixões e amores que levou consigo.
ResponderExcluirPoeta, sou-lhe grata por fazer-me refletir sobre meu epitáfio.