segunda-feira, 24 de maio de 2010

Senilidade Perdida


Confesso que sinto-me perdido neste mundo, não pelas mudanças radicais, típicas e fúteis dos jovens, mas por considerar as mudanças dos jovens como radicais, típicas e fúteis.

Sim, admito, sinto que nasci no tempo errado. Sou um velho dentro de uma multidão de "aborrescentes" que discutem as políticas sociais de suas agitadas vidas como se fossem realmente algo digno de uma pauta do Conselho de Segurança da ONU. Se ao menos os jovens de hoje gastassem tanta energia, eloquência e paixão com algo realmente útil...

Ah! A paixão! Essa força motriz que impulsiona a juventude para lugares apertados, com música de qualidade questionável (a moral, então, nem se discute) e nos quais o capitalismo especulativo mostra toda sua potência na forma de drinks mais caros que garrafas!

Francamente, já deu, não? Onde estão os bons e velhos botecos cujos quais a juventude costumava se reunir, bares nos quais os garçons são conhecidos pelo nome, podia-se conversar sem disputar com caixas de som tendo-se, assim, a chance de realmente conhecer ou desgustar a companhia de alguém.

Eu mesmo respondo: Estão de portas fechadas ou recheados de velhos bem mais velhos que eu, mas os quais não se esqueceram dos pequenos prazeres de suas juventudes como uma mesa de sinuca estrategicamente torta, uma cerveja realmente gelada e barata, aipim com carne seca, linguiça frita com cebola e ovo colorido.

Bons tempos que não voltam mais. Ria-se por dentro do discurso inflamado dos "comunistas de bar" que logo abafavam suas vozes ao avistarem a rádio-patrulha dobrando a esquina.

Época de ouro, na qual verdadeiras poesias eram espalhadas pelo rádio, todo bairro tinha um campinho para a pelada da turma, fumar era "cool", AIDS era coisa de bicha, maconha era coisa de hippie, trânsito era coisa de São Paulo, depressão era coisa de asilo.

É... bons tempos.

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