Li na biografia de Eric Clapton a citação de que o mesmo, em dado ponto da sua vida, só não se suicidara por temer sentir falta de beber. Sim, seu vício no álcool era tamanho que foi preciso superar a vontade de morrer para atender aos seus caprichos etílicos. Desde que obtive essa informação cheguei à conclusão de que um homem deve, sim, ter seus vícios. Claro,
estes não precisam (e não devem) ser destrutivos, mas tornei-me fiel seguidor da ideia de que ter algo material tão enraizado em nossas vidas é extremamente positivo. Como não sou fã de hipocrisias eu mesmo descobri meu vício: o futebol.Sim, eu sou daqueles imbecis que gostam de assistir à série B do Campeonato Belga, que acordam de madrugada para acompanhar jogos da UEFA, que lêem a parte esportiva do jornal (que é praticamente uma Caras para homens) e discutem calorosamente a lei da vantagem, o impedimento duvidoso e tece comentários sobre a mãe do árbitro. Sinto muito, mulheres, mas sou daqueles caras os quais, aos domingos e quartas-feiras, sentam-se religiosamente em frente à TV, seja em casa ou num bar, bebe uma cerveja e berra como se pudesse ser ouvido pelo técnico ou pelos jogadores.
Todavia, não só de “ogrisse” vive o futebol. Certa feita me descrevi como um homem frio, mas que tende a emocionar-se com sutilezas da vida e o esporte mais popular do mundo é a maior fonte que já vi desses momentos sutis, comumente chamados de fair play (jogo limpo, jogo justo). Gosto de ver o ser humano conseguindo separar o adversário do inimigo, o lutar do guerrear, enfim, demonstrar humanidade ainda que no ápice da testosterona e no calor de uma partida intensa. Virtudes como o companheirismo, a tolerância e o respeito mútuo sendo exercidas ferrenhamente dentro de campo levam meus olhos às lágrimas e é justamente sobre um caso desses que passo a relatar...
Como tarado por futebol estava assistindo a uma partida que, se for analisar pela lógica, não tinha nada a ver comigo: Fluminense x Grêmio. Sou flamenguista, os jogos que me interessam de fato são os referentes à base da tabela, não ao topo. Mas como razão e paixão não se comunicam com muita facilidade eu optei por assistir ao jogo. Felizmente.
Pois bem, quem acompanha futebol sabe que o Tricolor Carioca tem um jogador (que apesar das críticas a ele considero bom) chamado Washington e que o mesmo está a nove partidas sem fazer gol, o que deve ser uma pressão fudida, haja vista que ele é atacante e é basicamente isso que um atacante faz: coloca a bola dentro da rede. Seria tipo um goleiro ficar por nove jogos sem fazer uma defesa, frustração total. Eis o cenário: segundo tempo, Washington, brasileiro, recebe a bola e chuta em direção ao gol. Por questões de centímetros a mesma iria para a linha de fundo mas Conca, argentino, corre em direção à meta adversária e finaliza. Gol do Fluminense. O público vai ao delírio, aplaudindo Conca que faz um sinal de negativo com a mão e aponta Washington, que é ovacionado pelos demais membros da equipe.
Naquele momento não haviam rivalidades. Não existia guerra de orgulho. Não existia Brasil x Argentina. Eram duas pessoas que lutavam por um objetivo comum. Assim como não havia flamenguista x tricolor, pois comemorei o gol do Fluminense, não pelo time em si, mas pelo ato do meia-atacante argentino. Fiquei pensando que era realmente uma pena Israel e Palestina não resolverem suas diferenças em campo, assim como chechenos e russos, tutsis e hutus e etc... como o mundo seria melhor se todos os problemas fossem resolvidos entre quatro linhas, dentro de noventa minutos, com clima de amistoso e tensão de final.
Ainda tenho fé de que um dia a humanidade trocará o fuzil pelas chuteiras e as trincheiras pelo gramado. Esperança de que o ser humano terá a capacidade de aplaudir um adversário e reconhecer uma vitória justa. Nesse dia provavelmente a palavra inimigo será banida do vocabulário dos homens e só será usado o termo adversário. Todavia, enquanto esse dia não chega, limito-me a celebrar os pequenos momentos de pureza que o futebol é capaz de me proporcionar. E vivo desse vício com a expectativa de passar tempo o bastante na Terra para ver meu sonho se tornar realidade.
Eu não sabia deste teu dom com as palavras.
ResponderExcluirAdmiro muito os que possuem.
Eu sou uma grande amante da poesia também. Costumo me perder entre letras, linhas e entrelinhas...rs.
Tenho algumas poesias publicadas num site. Se quiseres eu te passo depois.
Parabéns pelos textos que li aqui.
Beijos, amigo! E ainda espero o RPG..rs.
Bom final de semana!
Que texto lindo! Fez-me realmente começar a olhar o futebol como uma expressão do amor.
ResponderExcluirhttp://www.acopadaspessoas.com.br/#/filme/
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